Bom dia,
Entrevista concedida a uma revista especializada abordando o tema felicidade e trabalho.
Qual
a importância de um ambiente bom e produtivo para os funcionários? Satisfazer o
cliente interno é tão importante quanto fazê-lo ao externo?
Alguns acreditam que não é tão fácil de conciliar as duas coisas:
ambiente bom e produtivo ao mesmo tempo. Acredito que esse questionamento ou a
razão de pensarem assim está diretamente ligado a nossa origem como nação.
Quando do "descobrimento" do Brasil e nas décadas seguintes tivemos a
implantação e manutenção do modelo de trabalho escravocrata, servil, submisso,
opressor onde os trabalhadores produziam à base de chicotadas.
Sabedores de que a promulgação da Lei Áurea se deu no final do século
XIX (1888) isso nos dá 125 anos até os dias de hoje. Se pensarmos em termos de geração,
teremos algo em torno de três gerações, ou seja, há três ou no máximo quatro
gerações atrás o modelo de trabalho era completamente antagônico ao que se
procura agora.
Sem falar que durante este processo de evolução nas relações de trabalho
passamos pelas teorias clássicas da administração onde o foco era a produção no
menor tempo possível transformando os trabalhadores em seres braçais (um bom
retrato disso está no filme Tempos Moderno de 1936 do cineasta Charles Chaplin).
Sendo assim, é compreensível esse antagonismo na mente de muitos
empresários, mas não pode ser aceitável.
Os colaboradores exigem cada vez mais essa mudança no relacionamento
empresa X colaborador, principalmente os mais novos, e é papel fundamental do
RH arquitetar e viabilizar essa mudança.
Sobre a segunda questão, a resposta é Não! Satisfazer o cliente interno
é mais importante do que satisfazer o cliente externo. As pessoas são facilmente doutrinadas a seguirem modelos que lhes foram entregues prontos ou jargões como “o cliente é o rei” ou “atenda ao cliente como você gostaria de ser atendido”. Imagine se você tem em sua equipe de atendimento um colaborador extremamente afetuoso e cinestésico e diz a ele “atenda aos clientes como você gostaria que lhe atendessem”..., depois não vai brigar com ele quando os clientes começarem a reclamar.
é mais importante do que satisfazer o cliente externo. As pessoas são facilmente doutrinadas a seguirem modelos que lhes foram entregues prontos ou jargões como “o cliente é o rei” ou “atenda ao cliente como você gostaria de ser atendido”. Imagine se você tem em sua equipe de atendimento um colaborador extremamente afetuoso e cinestésico e diz a ele “atenda aos clientes como você gostaria que lhe atendessem”..., depois não vai brigar com ele quando os clientes começarem a reclamar.
Contudo, não devemos satisfazer um em detrimento ao outro, são duas
realidades distintas. O que afirmo é que devemos nos preocupar mais com o nosso
cliente interno.
Outro dia, conversando com um grande amigo ele me relatou uma
experiência que cabe como exemplo ao que estou dizendo. Ele me disse que sua
filha lhe perguntou “Pai gostaria de melhorar o meu relacionamento com meus
colegas da escola, o que faço?”, sua resposta foi imediata “Filha melhore
primeiro seu relacionamento com seu irmão”, a propósito a filha dele tem 15
anos e o filho 13. É exatamente isso que estou dizendo, ao satisfazermos os
nossos clientes internos, automaticamente eles irão satisfazer os nossos
clientes externos, a mudança vem de dentro para fora.
O
que faz de uma empresa um local agradável para trabalhar?
Acredito que a essência esteja no
respeito. O respeito não aceita discriminações de qualquer natureza, não aceita
assédios, não aceita intolerâncias e também não aceita mediocridade.
Quando as relações são respaldadas pelo
respeito, pessoal e profissional, nos temos um ambiente adulto e sadio onde os
profissionais podem desenvolver seus trabalhos com responsabilidade, clareza e
objetividade.
Quando há respeito, os lideres podem e
devem orientar seus subordinados para o melhor desempenho assim como cobrarem
uma evolução nas relações e nos trabalhos. O respeito legitima o líder a não
aceitar a mediocridade, o trabalho medíocre ou modesto. Se o líder aceitar a
mediocridade está aceitando um colaborador medíocre e furtando dele a essência
de sua evolução. O virtual é o que existe em potencial e cabe ao líder o papel
de catalizador dessa simbiose.
Como
avaliar se o funcionário está satisfeito com a empresa? Com qual periodicidade
esse avaliação deve ser refeita?
Existem muitas maneiras de se avaliar a
satisfação dos colaboradores. Às vezes no simples cumprimentar matinal pode-se
perceber a insatisfação. Para isso os líderes devem estar conectados com seu
lado emocional. O que ocorre é que muitos dedicam todas as suas forças ao lado
cognitivo e perde essa sensibilidade, essa competência essencial ao líder.
Mas temos também as ferramentas
estruturais dentro do RH para medir o clima organizacional. A mais clássica e
utilizada é a Pesquisa de Clima Organizacional que deve ser pensada e
desenvolvida de forma a abranger todas as variáveis que possam influenciar o
desempenho dos profissionais. No momento da construção da Pesquisa de Clima
deve estar latente o conceito de que o ser humano é um ser bio-psico-social e
devemos abranger todos esses campos dentro da pesquisa. É importante que a
pesquisa seja conduzida por um profissional da área de recursos humanos, sem a
interferência/presença dos líderes e que seja garantido o anonimato aos
participantes. Fundamental que o processo seja apresentado primeiramente aos
diretores, presidentes, CEOs e que eles avalizem a execução e, mais do que isso,
o plano de ação que deverá ser traçado e executado pelas lideranças após o
resultado da pesquisa.
Quanto à periodicidade vai depender do
poder de resposta da organização, existem empresas que podem ser mais práticas
e dinâmicas do que outras e, consequentemente, as respostas ao resultado da
pesquisa de clima chegam mais rápido a base. A pratica de mercado fica entre seis
ou doze meses de intervalo entre uma e outra.
Quais
os resultados desse ambiente positivo no negócio como um todo?
Os resultados são os melhores
possíveis. Tanto para os colaboradores quanto aos acionistas/presidentes de
empresas. Um ambiente positivo, saudável reduz o absenteísmo, aumenta o comprometimento,
aumenta a sinergia e reduz o Turnover. E como consequência terá o aumento da
lucratividade da empresa conseguido através de duas vertentes: Aumento da
produção e qualidade dos produtos e/ou prestação de serviços e a redução de
despesas.
Quais
os passos para tornar a empresa um ambiente no qual o funcionário sinta satisfação
em trabalhar?
Além de termos nossas ações respaldadas pelo respeito, como mencionei no
inicio da entrevista é fundamental que a área de recrutamento e seleção
trabalhe com entrevistas por competência e por valores.
Se alinharmos ou deixarmos próximos os valores da empresa com os valores
dos colaboradores, conseguiremos mais um degrau na construção da satisfação em
se trabalhar na empresa.
Além disso, devemos ter um processo de comunicação ágil e
massificante. Temos que levar a informação de forma rápida e a todos porque
onde não há informação prevalece a criação. Todos têm necessidade de
informações e quando elas não chegam, a necessidade nos faz criar, daí surgem
os boatos, a famosa rádio peão.
Temos que tornar claro (comunicar) o plano de carreira. Quando o
processo de promoção não apresenta regras claras e metas definidas para cada
cargo e projeto, gera conflitos hierárquicos e desmotivação profissional. O
profissional quer saber quais são suas oportunidades, seus desafios e de que
modo ele pode ascender.
Devemos incentivar e propiciar o equilíbrio entre a vida
profissional e a vida pessoal, desestimulando horas-extras, planejando melhor a
execução das tarefas, reformular escalas de trabalho e dar feedback com
frequência. Nesses pontos o RH pode contribuir muito através da área de T&D.
E, muito importante também, termos em mente que existe um elo
entre reconhecimento e recompensa que não pode ser
quebrado.
O reconhecimento é o ato
de reconhecer, gratidão, sentimento de agradecimento.
A recompensa é o ato ou
efeito de recompensar, premio dado em reconhecimento de um serviço, prêmio,
indenização ou compensação.
O processo de reconhecimento
dá-se quando o líder diz a um membro de sua equipe “parabéns” ou “muito
obrigado”. Pode, ainda, ser concretizado através de uma placa de homenagem, um
troféu, um certificado, um almoço com o presidente da empresa, ou até mesmo com
um simples pin.
Agora quando falamos em recompensa
inevitavelmente devemos conjugar este verbo com uma gratificação monetária. Portanto,
devemos praticar ambas as coisas, reconhecimento e recompensa.
Depois de algum tempo reconhecendo,
o líder deverá recompensar (promover ou aumento salarial por mérito).
Como
manter essa harmonia entre funcionários e empresa e fazer com que isso se
reflita para o bem do negócio e do cliente?
Esta harmonia está na mão de todos
dentro de uma empresa. Mas o maestro desta sinfonia é o departamento de
Recursos Humanos.
Vivemos dias alucinantes, problemas
nunca antes enfrentados, quebras de paradigmas, mescla de culturas,
expectativas altas trazidas pela nova geração de profissionais, tudo
acontecendo de forma exponencial.
Para manter a harmonia o RH não pode e
não deve exercer o “papel de policia” trazendo para si o poder de punir os
“infratores” e nem ser paternalista aceitando desvios de conduta ou o não
cumprimento das normas/políticas da empresa, deve sim, agir, por meio dos
líderes formais da empresa. Deve estar
presente, ir ao “chão de loja” ou “chão da fabrica”, não administrar somente
com bases teóricas mas sim vivência a situação, os problemas e estar próximo aos
colaboradores.
Ao RH cabe a figura de justiça. Fazendo
distinção entre a Justiça Corretiva que deve ser igual a todos e aplica-se quando
há algum tipo de dano nas relações humanas, da Justiça Distributiva,
cujo critério de aplicação é o mérito, julgando aqueles que serão por ela
beneficiados por meio de uma avaliação de desempenho, e neste ponto não
acredito que justiça é aplicar o mesmo para todos.
Encerro deixando uma mensagem
parafraseando Thomas Edison “Ao RH também cabe a realidade de 1% de inspiração
e 99% de transpiração”.
Muito trabalho a todos,
Obrigado,
Alexandre Lopes
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